Wednesday, December 19, 2012

Not a birthday in 3 days


In three days my father would be 70 years old. And I writing this in English right now because I don't want my mom to understand it. Really, I don't.

I've been having ups and downs since my father's passing. Most days I'm fine, but when I feel bad, it's really bad. It's close to panic. When I find myself alone at the house I cry and I cry so much that I feel thirsty and I my eyes hurt from being dry.

I wish I believed there was something after life. It would make everything much easier. But I don't and it's my father's "fault". One year before his passing, he went on a coma and when I met him back in Brazil he told me there was nothing there in his coma: no mother or father waiting for him, no bright lights, just nothingness.

And that's is so scary.

I've changed my way of seeing life, my way of looking at my husband and my son. I'm trying to enjoy life as its fullness because I think there is nothing after this. There are no other chances, no second opportunities, no other days with this specific weather, the food is not going to taste this good for a second time. There is nothing of the exactly-same twice. Either you get to enjoy it now, or you've wasted your chance.

The worst thing is the regret of not having said "I love you" or "thank you for what you have done for me" when I saw him last. He passed away without  this comfort from me: and the guilty is heavy.

Tuesday, December 4, 2012

Dom Pedro II e eu



Sempre fiquei um pouco envergonhada e nunca tive coragem de confessar que os livros, muitas vezes, me atraiam pela capa.

Era ver uma daquelas capas lindas, coloridas que eu corria pra eles. E depois, passar a mão nas páginas, sentir a qualidade do papel me dava outras informações. Como podem publicar Cervantes em papel de jornal? Não, ele não merece isto.

A próxima ação era sentir o cheiro do livro. Sempre fazia isto discretamente, tentando parecer míope demais para ter que ler tão de perto que meu nariz encostasse nas páginas.

Ah, como é bom o cheiro do papel novo. Papel branquinho tem um cheiro diferente do papel amarelado. Mas o livro usado também tem cheiro. Num sebo você consegue saber, até, quantas e quais pessoas se interessaram por aquele livro. Sim! As vezes, o cheiro da estante impregnado nas páginas nos diz que ele passou despercebido. Talvez, atitude inconsciente do dono do sebo que não tem coragem de vender aquele exemplar. As vezes você sabe que um senhor que adora charutos o andou folheando ou uma senhora que adora perfumes franceses.

E o barulhinho bom que ele faz quando você folheia várias páginas juntas, tentando encontrar aquela parte que você adorou e quer ler pro seu melhor amigo que também adora literatura (sim, era com você colega).

Tem coisa melhor que passar a mão num livro? Sentir o belo trabalho de encadernação que fizeram no seu exemplar do Monteiro Lobato que você ganhou da sua bisavó. Sentir as novas modernas texturas que até brilham de longe ou parecem que estão saltando em sua direção.

E até o prazer gustativo. Sim, mas eu tinha vergonha deste também. Vão me internar se eu disser que adoro virar as folhas com o dedo ligeiramente úmido para sentir o sabor do livro.

Lógico que eu teria morrido se estivesse tentando ler algum livro proibido alguns séculos atrás. Mas o prazer degustativo também é metafórico, claro. Tem livros que a gente quer devorar em horas e não tem coragem de largá-lo nem pra atender o telefone. "Quem é o infeliz que quer falar comigo numa hora dessas?"

Mas aí, lendo eu um livro bem básico que "cabulei" na faculdade (Raízes do Brasil, veja página 163) descubro uma passagem que fala sobre Dom Pedro II:

"O imperador (...) dizia gostar dos livros com satisfação dos cinco sentidos, isto é:
visual, pela impressão exterior ou aspecto do livro;
tátil, ao manusear-lhe a maciez ou aspereza das páginas;
auditivo, pelo brando crepitar ao folheá-lo;
olfativo, pelo cheiro pronunciado de seu papel impresso ou fino couro da encadernação;
gustativo, isto é, o sabor intelectual do livro, ou mesmo físico, ao umedecer-lhe ligeiramente as pontas das folhas para virá-las"

Que alívio! Depois de 33 anos eu assumo as minhas loucuras, pois se algum Alienista tentar me internar vai ter que levar um monte de outras pessoas juntas (inclusive a tumba de Dom Pedro II).

Pelo menos eu não sou uma bibliotecária parecida com Richard de Bury que, em seu Philobiblon, mui interessante tratado sobre o amor aos livros, redigiu um regulamento durissímo sobre empréstimo. Ok, amar é uma coisa, devotar é outra.

Meu pé de jabuticaba




Sábado foi um dia muito difícil pra mim. Pensar que a vida do meu pai acabou é coisa inimaginável de fazer. É uma dor que não vai passar, sei que só vou me acostumar. A única coisa que sei é que para a minha mãe é muito mais difícil.

Pensando no meu pai, cheguei a conclusão de que muitas das minhas lembranças se relacionavam com pés.

Uma das minhas primeiras lembranças de criança é de quando eu tinha uns 4, 5 anos. Prendi meu dedão no pedal da bicicleta. E comecei a pedir socorro pro meu pai. Ele, a pessoa mais paciente do mundo, e com um toque de malícia inacreditável (respeitando sempre a idade apropriada das crianças), disse: "Calma, tudo o que entra, sai." E ele desentalou o meu dedão dali.

Quando a gente começou a praticar ciclismo juntos ele insistia em dizer que se eu estava sentindo dor na perna, era porque não estava usando meus pés direitos. "Pedala com a ponta do pé, é para isso que o pedal serve." E ele me ensinou a manter os joelhos perto do aro, também, pois afinal de contas eu era ciclista e não bicicletera.

Ele que acordava minhas irmãs e eu para irmos a escola. Como a minha cama era a mais próxima da porta, eu sempre era a primeira. Uma vez, sem nem saber dirigir, sonhei que estava tentando passar a marcha de um caminhão, mas era muito duro pisar na embreagem. Era meu pai me acordando, gentilmente, puxando meu pé.

Hei pai, se você esta me ouvindo, já sabe que não vale vir puxar meu pé da cama. Você já fez isso quando eu era adolescente.

Tenho que ficar esperta, na verdade. Meu pai era um piadista e não perdia a oportunidade para passar um trote ou fazer uma piada.

No meu último dia de moradia no Brasil, meu pai me deu uma escada para eu apoiar no pé de jabuticaba e colher frutas para ele comer. Lá fui eu, toda "aventureira". Levei uma bronca do marido, já que podia cair e me machucar bem no dia de viajar. Meu pai olhou pra mim e deu risada. Fiquei quieta, né? Quem é que tem coragem de dedurar o próprio pai.

Pai, saudades imensas. Mas sei que você esta ai dando risada da gente e pensando "Estou esperando vocês".

E para usar do conselho de uma amiga linda: vou fazer de conta que ele foi andar de bicicleta e esta se divertindo muito para voltar já pra casa.

The happiness in a seed




Is there anything more sad than a watermelon without seeds?

This morning I went to the grocery shop and I saw a huge basket filled with seedless watermelons. The sign said that those were special watermelons since they didn't have seeds.

Rubem Alves says that happiness consists off small moments of joy. And, for me, there's no better joy than to spit watermelon seeds. Far away.

I think those watermelons must feel pretty sad fruits themselves. Where's happiness on going to a house that no one wants to compete on spitting watermelons seeds? And who is this person who invented the seedless watermelon? Oh, what a sad person who doesn't know what is happiness.

In my house, my father was the one who taught my two sisters and I the naughty tricks. The crime of the watermelon was one of the first he taught us. To cut the watermelons in slices and eat them on the table very politely? Forget about it. We used to go to the yard, put the watermelon on a table and carve the fruit with spoons. Looking at the garden we would spit the seeds as far as we could. The winner was the one who spat the farthest, of course.

I refuse to buy a seedless watermelon. I'm gonna buy one with seeds just to teach Nicolas how to spit them: very far away. My father will be very proud.

Seeds were frequent things on my childhood. Avocado, mango and olive seeds had each their very own purposes.

Avocado seeds make huge marbles and good tools for target practicing.

Who has never made dolls out of mango seeds? Just wash, let them dry and draw with markers.

Olive seeds keep a wonderful secret. Our happiness as children wasn't just to eat pizza. What we want most was to sit with my dad to crack the olives seed and eat the little meat that there is inside. Haven't you ever done that? You don't know what you are missing.

Some of my friends already know, but for the ones who don't my father is really sick. In this fragile moment, when I'm so far away, the best thing I can do is to remember of the happiest moments he offered us with the simplest things life could offer: seeds.

A felicidade nas sementes


Tem coisa mais triste do que melancia sem semente?

Hoje de manhã fui ao mercado e vi uma cesta gigante, cheia de melancias e com o destaque de que eram melancias especiais pois não tinham semente.

Rubem Alves diz que a felicidade é composta de pequenas alegrias. E, pra mim, não tem alegria maior do que cuspir semente de melancia. Bem longe.

Fiquei pensando que as tais melancias deviam se sentir bem tristes também. Onde esta a felicidade de ir para uma casa onde ninguém vai brincar de cuspir semente? E a pessoa que inventou a melancia sem semente? Coitada; não sabe o que é alegria.

Lá em casa meu pai era quem ensinava minhas duas irmãs e eu a fazer coisa errada. O crime da melancia foi um dos primeiros que ele nos ensinou. Cortá-la em fatias e comer educadamente à mesa? Esquece. Íamos para o quintal, colocávamos a melancia numa mesa e cada uma, de posse de sua colher, começava a cavar. De frente pro quintal cada um ia cuspindo suas sementes. É claro que ganhava quem mandava a semente mais longe.

Eu me nego a comprar uma melancia sem sementes! Vou comprar uma melancia só para ensinar o Nicolas a cuspir bem longe. Meu pai vai ficar super orgulhoso.

Sementes foram coisas recorrentes da minha infância. Semente de abacate, de manga e de azeitona. Cada uma com sua função.

A semente de abacate, limpinha, serve de bolinha de gude gigante e dá para brincar de vários jogos de pontaria.

Quem nunca fez bonecos com semente de manga? É só lavar, deixar secar e pintar com canetinha.

A semente de azeitona guarda um segredo. A nossa alegria de criança não era simplesmente comer pizza. O que nós queríamos era sentar com meu pai para quebrar as sementes de azeitona e comer a carninha de dentro. Nunca fez isso? Não sabe o que esta perdendo.

Meus amigos mais próximos já sabem disso, mas pra quem não sabe, meu pai esta bem doente. Nesse momento delicado a melhor coisa que posso fazer, aqui de longe, é lembrar dos momentos alegres que ele nos proporcionou com as coisas mais simples da vida como sementes.